Cromo criar deficientes intelectuais?
Uma amiga que é professora
universitária convidou-me para ajuda-la na introdução de uma disciplina com a
qual eu tenho um pouco mais de afinidade. Foram duas aulas que me deixaram com medo
dos profissionais que as nossas instituições de ensino estão formando. Ao final
da segunda aula, depois de explicarmos a matéria com muitos exemplos, desenhos,
imagens, sons e toda a parafernália que segundo alguns existe para “facilitar o
aprendizado”, sentenciamos à turma: “Pessoal, agora é preciso ler os 2 artigos
e o capítulo 10 para a próxima semana”. Nesse momento, um dos “acadêmicos”
aparentando estar no momento mais indignado de toda a sua vida, em tom de voz
exageradamente acima do normal, solta o zunido: “mas professora, ler é MUITO
cansativo!”.
Fiquei perplexo. Por alguns
segundos todos os movimentos do corpo me abandonaram, não sabia como agir
diante de uma das maiores aberrações que eu já ouvi dentro de uma faculdade (e
olha que eu não ouvi poucas). A causa do medo, porém, não é a pérola do
estudante. Em todos os ambientes formais ou informais existem aqueles que
preferem abster-se do saber, se o sujeito quer permanecer ignorante, essa é uma
escolha que eu respeito. O que me assustou mesmo foi uma turma de
aproximadamente 30 alunos apoiar o lamento do colega. Por alguns instantes imaginei
que estava diante de uma revolução da ignorância onde o sujeito reclamão se
passava por paladino da burrice e seus colegas apoiadores por soldados da
idiotice.
Alguns argumentam que ler não é a
única forma de adquirir conhecimento. Pois bem, há outras. Concordo. Porém,
nenhuma delas compara-se à leitura em sua capacidade de sintetizar conhecimento
multidisciplinar e condensar o pensamento de autores e épocas diferentes. Nem mesmo o Jhonny 5 que é muito mais inteligente que todos nós despreza a utilidade da leitura.
Ler é um ato civilizador, indispensável a quem quer ter a mínima noção de como é viver em uma sociedade complexa. Que tipo de profissionais e que tipo de pessoas serão aqueles estudantes que enxergam na leitura uma atividade enfadonha, um castigo, um mal necessário?
Ler é um ato civilizador, indispensável a quem quer ter a mínima noção de como é viver em uma sociedade complexa. Que tipo de profissionais e que tipo de pessoas serão aqueles estudantes que enxergam na leitura uma atividade enfadonha, um castigo, um mal necessário?
Ponderando a situação eu encontro
duas causas que podem ter originado esta aversão coletiva ao ato de ler. A
primeira é o fato de que nossas crianças não aprendem a ler, aprendem a decorar
e repetir o significado de símbolos. Ora, isto não é leitura. Ler é
interpretar, relacionar símbolos a situações cotidianas, fatos. Ler é associar símbolos frios aos contextos da vida prática, é encontrar no texto algo
aplicável à sua compreensão de mundo.
A segunda causa é um subproduto
da primeira. Minha professora da 4° série reclamava que os livros “de hoje em
dia” só têm figuras. Na época dela só tinha texto. As crianças liam, a leitura
desenvolvia a capacidade de abstração e elas aprendiam interpretar, aprendiam
relacionar textos e contextos. Mas a nossa educação reprodutora de analfabetos
funcionais em série acabou estimulando o surgimento de uma sociedade cosmética.
Nesse mundo, a imagem passa a ser o único conteúdo que o sujeito tem condições
de interpretar sem dar um nó no “intelecto”. Ao deparar-se com um texto sem “figurinhas”, o
estudante acostumado com as imagens autoexplicativas vai sentir-se mal. Óbvio,
o exercício da leitura é uma capacidade cognitiva mal desenvolvida no rapaz. É
um deficiente intelectual.
Aonde chegaremos se tudo
continuar como está? Não sei. Mas sei que nosso sistema educacional e nossos
métodos precisam ser revistos. Isto você também sabe. O que você, talvez não
saiba, é que neste exato momento o nosso Plano Nacional da Educação que deveria
ter sido votado em 2010 pelo Congresso está ainda “em discussão” e segundo analistas,
com a proximidade das eleições, poderá ser votado somente em 2013. Se você
conseguir, durma com este barulho e acostume-se com pessoas que vão armar um
barraco quando tiverem que ler um texto de 5 páginas. É a própria manifestação da
Idiocracy, ela já chegou.
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Fenômeno... muito bom!
Muito bom!. Eu também me considera um analfabeto funcional, até perceber que isso é devido a facilidade que temos hoje em dia. "Pra que ler um livro se você pode ver um filme?", coisas desse tipo. O fato é devido a nossa sociedade que se acostumou ao modernismo. Não aprendem a questionar as coisas e nem buscar informações por causa da sua preguiça. Gostei bastante dos textos do blog =D