Amor, você é meio paranoico

Ainda não sabemos como será o dia depois de amanhã, mas dou um kinder ovo sem brinquedo a quem conseguir pintar um quadro minimamente aceitável sobre o que está por vir.

Cansado de tentar achar resposta, comprei uma passagem e fui direto a Salvador dediquei alguns dias para acompanhar duas ótimas iniciativas sobre o futuro das mídias sociais, e principalmente, sobre o futuro da relação entre ser humano e a informação.


A primeira iniciativa é a “SCUP – 50 ideias sobre o futuro das mídias sociais”, onde especialistas em marketing digital e cultura da informação respondem a pergunta: “Como será o futuro das mídias sociais”. Segundo o Eliseu Barreira Júnior, essa é a pergunta de 1 milhão de dólares. Ninguém ficou milionário com a resposta.

A segunda é a “Previsões e Dicas para 2013”, organizada pelo excelente “Mestre SEO”. Aqui, 20 Mães Dinah especialistas em marketing digital tentam apontar o caminho das pedras para quem trabalha com SEO.

Apesar de aprender bastante com tudo o que eu li, o melhor resultado que podemos ter dos exercícios de futurologia é mais confusão intelectual. O que é bom, uma dúvida é melhor que uma certeza.

A verdade, porém, é que nossas ideias sobre o futuro são bastante herméticas, mais baseadas na adoção de tecnologias, isto é, em como usaremos as coisas daqui para frente, do que em reflexão sobre comportamentos, ou seja, o que seremos e quais relações teremos com as coisas, com os outros e com nós mesmos

Estando ainda acometido por essa vibe reflexiva e logo após presenciar mais uma discussão acalorada entre especialistas de Facebook, sobre um assunto completamente banal, tive o seguinte diálogo com a minha namorada:

[23/01/2013 23:48:30] haralan_mucelini: eu termino todos os dias me achando um ignorante completo.....
[23/01/2013 23:48:32] haralan_mucelini: e como tem gente que consegue ser prepotente??
[23/01/2013 23:49:13] haralan_mucelini: olho pra minha prateleira de livros e fico com um medo desgraçado das coisas que eu ainda não li... das que eu ainda não sei
[23/01/2013 23:49:28] Annie Adelinne: amor
[23/01/2013 23:49:31] Annie Adelinne: vc é meio paranóico

A paranoia é “um sentimento de desconfiança persistente, excessivo e mal fundamentado”.

Será?

Apesar de eu não acreditar que exista uma conspiração universal para nos esconder como as coisas vão funcionar nos próximos anos, estou certo quanto à esquizofrenia generalizada na qual nos metemos.

Concordo com o Carlos Nepomuceno que há alguns anos já nos alerta sobre a intoxicação informacional que criamos e da qual nos alimentamos sistemática e lentamente, de modo praticamente imperceptível:

“Todo organismo humano vivo que não troca com o meio externo tende a se intoxicar com as suas próprias ideias e interesses – Nepô

Essa intoxicação foi muito bem descrita pelo Gabriel Garcia Marquez em Cem Anos de Solidão. Toda vez que ele precisa contar detalhes da vida privada de um “José Arcádio” ou um “Aureliano Buendía” o termo mais usado é “ensimesmado”.

Essa talvez seja a melhor definição para o “homem” dos anos 10: um ensimesmado, intoxicado pela informação que ele mesmo cria.


Diante disso, a minha pergunta (que talvez não valha 1 milhão de dólares) não é sobre como será o futuro, mas, como nos libertaremos do presente, da intoxicação e da esquizofrenia informacional? 

É claro que os livros não lidos que me dão medo e estão olhando pra mim neste exato momento não irão sair da prateleira e pular no meu colo, abertos na página da reposta.

Porém, gostaria muito que esse processo de aprender, principalmente aquele em que se aprender a Ser, fosse menos paranoico. Mas talvez eu esteja querendo encontrar só um atalho fácil, uma espécie de CTRL + Z para a vida.

Como diria Oswaldo Montenegro:

“Se alguém vier pedir o meu conselho
A gente não aprende no espelho

A gente vive e sofre pra aprender”

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Estou em construção....

Sempre achei o Gabriel Chalita um sujeito bastante insosso. Mais uma vez, coloquei em prática meu eterno hábito de julgar o livro pela capa e percebi que desperdicei um bom tempo desprezando seus textos e contribuições por puro preconceito. Mas como diria o Joseph Climber, "a vida é uma caixinha de surpresas". Hoje recebi um texto do Chalita. Reflexivo, sensato. Lindo! (o texto, hahah). Quis compartilhar aqui, pois para quem está em versão beta, este texto apresenta uma significativa melhoria nas funcionalidades perdão e compreensão.



"Durante a nossa vida causamos transtornos na vida de muitas pessoas, porque somos imperfeitos. Nas esquinas da vida, pronunciamos palavras inadequadas, falamos sem necessidade, incomodamos. Nas relações mais próximas, agredimos sem intenção ou intencionalmente. Mas agredimos. Não respeitamos o tempo do outro, a história do outro. Parece que o mundo gira em torno dos nossos desejos e o outro é apenas um detalhe.

E, assim, vamos causando transtornos.Esses tantos transtornos mostram que não estamos prontos, mas em construção. Tijolo a tijolo, o templo da nossa história vai ganhando forma. O outro também está em construção e também causa transtornos. E, às vezes, um tijolo cai e nos machuca. Outras vezes, é o cal ou o cimento que suja nosso rosto. E quando não é um, é outro. E o tempo todo nós temos que nos limpar e cuidar das feridas, assim como os outros que convivem conosco também têm de fazer.

Os erros dos outros, os meus erros. Os meus erros, os erros dos outros. Esta é uma conclusão essencial: todas as pessoas erram. A partir dessa conclusão, chegamos a uma necessidade humana e cristã: o perdão.
 


Perdoar é cuidar das feridas e sujeiras. É compreender que os transtornos são muitas vezes involuntários. Que os erros dos outros são semelhantes aos meus erros e que, como caminhantes de uma jornada, é preciso olhar adiante. Se nos preocupamos com o que passou, com a poeira, com o tijolo caído, o horizonte deixará de ser contemplado. E será um desperdício. O convite que faço é que você experimente a beleza do perdão. É um banho na alma! Deixa leve! Se eu errei, se eu o magoei, se eu o julguei mal, desculpe-me por todos esses transtornos… Estou em construção!"

Não faço ideia de quantas pessoas eu já tive a infelicidade de magoar. Mas acredito que para qualquer um de nós, reconhecer que não há perfeição em si mesmo e que perdoar faz parte da vida é o primeiro passo para um processo de libertação. Libertação da imposição da perfeição, da necessidade de ser tudo para todos. Liberte-se...perdoe!

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Para Além do Berço Esplêndido


Ser brasileiro é viver com a eterna sensação de que podemos ser e fazer mais e melhor. Por vezes me pego devaneando sobre os motivos que invariavelmente nos encaminham mais para a mediocridade do que para o aproveitamento eficiente de todo o potencial que temos como nação. Os otimistas vão alegar que já caminhamos muito em direção ao protagonismo internacional, que as economias desenvolvidas estão ruindo e os tsunamis que lá se passaram, aqui foram apenas marolas, que somos o país do futuro, que a copa e as olimpíadas estão ai para provar que o Brasil é capaz de abandonar com dignidade o rótulo de subdesenvolvido.

Tudo isso pode ser uma grande verdade, mais algumas questões históricas ainda estão sem resposta. Não seria possível reformarmos nosso sistema político para que toda a diversidade da nossa gente seja de fato representada? Seria possível uma reforma política e um pacto federativo que revigorasse nossa confiança nas instituições da república? Seria utópico almejar a priorização da educação como fundamento principal à construção do futuro das gerações que recém se apresentam ao mundo? Estaríamos nós querendo demais ao desejar arrancar da nossa indústria os entraves que nós mesmos criamos à sua competitividade? É egoísmo desejar que o trabalhador brasileiro não tenha que arcar com uma carga tributária que lhe consome 40% de tudo o que ganha, recebendo menos da metade desse valor em serviços públicos?

Para Além do Berço Esplêndido (Germano Rigotto – AGE Editora – 2011) é uma nobre tentativa de responder alguns destes questionamentos e mais, de lançar alguns fundamentos, ainda que introdutórios sobre os caminhos possíveis para que o tal berço tenha significado apenas no campo metafórico e não no campo prático como tem sido há séculos.

O livro é uma coletânea onde o autor trata de assuntos variados, todos relacionados aos gargalos no desenvolvimento brasileiro. Desde a necessária reforma das bases de nosso sistema político aos aspectos nocivos do atual sistema tributário. Apesar de tratar de alguns temas aparentemente densos, Rigotto tem uma grande capacidade de dar contornos práticos ao assunto tornando a leitura agradável e acentuando a relevância de cada questão.

Outra virtude aparente é que apesar da variação de temas, o autor transfere a todos os artigos um espírito que unifica a obra tornando-a um discurso coerente e bem fundamentado a favor do Brasil. Um livro relevante para quem quer ter um pequeno panorama das questões fundamentais a respeito do país enunciadas por alguém que possui conhecimento prático de várias delas por vivenciar o ambiente político brasileiro tendo sido prefeito, deputado e também governador.

Um livro de espírito nacionalista, federativo e reformador. Gostei muito da leitura, pelo conteúdo e também por ter sido um presente do amigo Luiz Henrique Dias. Indico a leitura a todos os amigos genuinamente interessados neste país. O livro é bom e agradável, como deve ser uma boa conversa sobre política.


Titulo: Para Além do Berço Esplêndido
Subtitulo: Reflexões sobre os rumos de um Brasil potência
Autor: Germano Rigotto
Editora: AGE
Preço: R$ 32,00 na livraria Saraiva.

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Terminei a faculdade, e agora?


Todo recém formado é um desempregado. Já ouvi essa frase centenas de vezes, já repeti outras centenas.  Em alguns casos ela não expressa a realidade, mas na maioria das vezes não podemos negá-la. Perdi as contas de quantas vezes deparei-me com universitários absolutamente preocupados com o quê fazer após concluir o curso. A realidade é que após quatro anos fatorial é preciso decidir como usar o certificado pelo qual você tanto se esforçou ou colou. Como esse dilema não passou pela minha cabeça nem por um minuto, acredito que este texto pode contribuir com quem ainda precisa fazer uma escolha complexa.

Esta semana o portal Administradores publicou uma enquete questionando qual seria o caminho pretendido pelos estudantes de ADM após a graduação. O resultado parcial deu o que falar na rede e acendeu a discussão a respeito das motivações que levam os jovens egressos para o caminho dos concursos públicos, para o negócio próprio ou para a iniciativa privada.


Prestar Concurso Público

Um bom salário na conta todos os meses, estabilidade, plano de saúde, folga garantida em todos os feriados, previdência privada e todos os outros benefícios amplamente conhecidos de uma carreira no setor público. Para chegar lá, óbvio, é preciso estudar muito, ficar atento às novidades do mundo concurseiro, muitas vezes é preciso viajar para fazer as provas. Em muitos casos, assumir uma vaga significa mudar de cidade, ficar longe da família e amigos e interromper planos pessoais.

Aparentemente, a esmagadora maioria dos estudantes de Administração, Direito, Contabilidade, Engenharias se encaminha para a tentativa de conquistar uma vaga naqueles moldes. Ocorre que nem sempre o conjunto de benefícios citados no parágrafo acima compensa o péssimo ambiente, o trabalho monótono, burocrático e sem desafios. Se você almeja a carreira pública prepare-se para ter seu crescimento profissional limitado por um plano de carreira da metade do século passado. Prepare-se para ter um reconhecimento pífio pelos resultados individuais que você alcançar e esteja pronto para ser chefiado por alguém que provavelmente tem capacidade profissional e formação inferior a sua.

Prepare-se também para ser acusado de incompetente, folgado e preguiçoso por boa parte da população. Entenda que você estará sujeito às mudanças políticas e sindicais que acontecerem e que dificilmente conseguirá lutar contra elas. Esteja pronto para os transtornos mentais, doenças psicossomáticas advindos da burocracia pública e principalmente, aprenda a conviver com o fato de que você provavelmente vai passar muito tempo fazendo algo que não te traz satisfação alguma. (óbvio que isto é uma generalização, existem RARAS exceções)

Abrir seu próprio negócio

O Brasil é muito empreendedor. E todo empreendedor é uma espécie de herói. Isso porque abrir um negócio no Brasil é uma atividade sobre-humana. Em 2012 ficamos na 126° colocação no DoingBusiness, um ranking que mede a facilidade para fazer negócios em 183 países. Estamos em um país onde os direitos de propriedade ainda são desrespeitados, o acesso ao crédito é uma verdadeira romaria nas burocracias públicas e privadas e a carga tributária despejada sobre o empreendedor é como se um homem estivesse carregando um elefante.

Mas ainda assim, estamos otimistas por sensíveis melhorias. Temos instituições sérias trabalhando pela desburocratização da atividade empreendedora e o que é mais animador, gente se empenhando para que o empreendedorismo se torne uma política de Estado e uma conquista do país. Além disso, temos empresas brasileiras que vão muito bem e sinalizam aos novos empreendedores que é possível dar certo, mesmo em um ambiente econômico hostil.

Se você já tem uma ideia e pretende abrir um negócio se organize para dedicar no mínimo 90% do seu tempo a ele nos primeiros anos. Se prepare para convencer pessoas de que sua ideia é boa, mas a ideia não basta, aprenda a provar número por número que seu negócio vai dar certo. Se convença de que você não sabe tudo e que vai precisar estudar MUITO, principalmente administração, vai ouvir muitos nãos, em alguns casos será desacreditado pelas pessoas e mesmo se dedicando ao máximo, seu empreendimento tende a ir para o fundo do poço nos primeiros dois anos de vida.

Trabalhar na Iniciativa Privada

O maior número de oportunidades de trabalho neste país está na iniciativa privada. Nossa economia, embora hostil aos empreendedores, exige a expansão de vários setores e naturalmente impõe aos empresários e ao Estado a necessidade de encontrar profissionais para dar conta do crescimento esperado para os próximos anos.

Nas empresas privadas a pressão por desempenho, resultados e o risco do desemprego são muito maiores do que na esfera pública. Em compensação, a oportunidade de crescimento em vez de linear como nas instituições estatais é exponencial. A qualificação também conta muito mais na esfera privada. Quem tem competência e a demonstra entregando resultados tem condições de ascender na carreira muito rapidamente.

Se este é o caminho que você pretende seguir coloque na cabeça que só com a graduação você terá dificuldades em lugares onde a competição é intensa. Idiomas são importantes, experiência também, as habilidades comportamentais são de grande relevância e com tudo isso: sem resultados, sem emprego. Obviamente, existem empresas privadas incompetentes que não sabem reconhecer o desempenho de seus funcionários, essas vão pro mesmo poço daquelas citadas no último tópico. Vale lembrar que o ambiente em uma empresa não é um mar de rosas, existem muitos profissionais que construíram toda sua vida profissional na iniciativa privada e apresentam problemas de saúde e distúrbios emocionais e relacionados ao trabalho semelhantes ou piores do que aqueles citados no primeiro tópico.

O caminho que eu escolhi

Empreender. Terminei a graduação há apenas quatro meses, mas não tive dificuldades em escolher o que fazer porque era uma decisão que eu já tinha tomado. Abrimos a empresa em que sou sócio quando eu estava no penúltimo ano do curso de Administração. Sempre acreditei ser algo perverso ganhar dinheiro fazendo algo que você não gosta. É o que eu vejo em muita gente que faz concurso público só pelo salário, só pelos benefícios, mas sem interesse nenhum no papel que terá a desempenhar. Que tipo de profissional consegue ter sucesso sem paixão pelo que faz?

Mas também conheço muita gente satisfeita com a carreira pública. Pessoas que se realizam não só no aspecto financeiro, mas pelas próprias atribuições da função. É na verdade, muito bom ser atendido por um funcionário público que tem verdadeira satisfação com o seu trabalho, é por meio destas pessoas que nossos impostos são devidamente devolvidos em serviços competentes.

Acredito que o árbitro mais importante para resolver esse dilema é a satisfação pessoal, a escolha que atenda objetivos de longo prazo, não imediatismos pragmaticamente burros e que conduzem ao desgosto pelo trabalho. Quando for decidir, tenha como critério fundamental escolher o trabalho que te realiza. E se for difícil de alcançar, não há problemas, pior é chegar à meia idade e descobrir que você investiu metade da vida em algo que só te deu dinheiro. 

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Cromo criar deficientes intelectuais?


Uma amiga que é professora universitária convidou-me para ajuda-la na introdução de uma disciplina com a qual eu tenho um pouco mais de afinidade. Foram duas aulas que me deixaram com medo dos profissionais que as nossas instituições de ensino estão formando. Ao final da segunda aula, depois de explicarmos a matéria com muitos exemplos, desenhos, imagens, sons e toda a parafernália que segundo alguns existe para “facilitar o aprendizado”, sentenciamos à turma: “Pessoal, agora é preciso ler os 2 artigos e o capítulo 10 para a próxima semana”. Nesse momento, um dos “acadêmicos” aparentando estar no momento mais indignado de toda a sua vida, em tom de voz exageradamente acima do normal, solta o zunido: “mas professora, ler é MUITO cansativo!”.

Fiquei perplexo. Por alguns segundos todos os movimentos do corpo me abandonaram, não sabia como agir diante de uma das maiores aberrações que eu já ouvi dentro de uma faculdade (e olha que eu não ouvi poucas). A causa do medo, porém, não é a pérola do estudante. Em todos os ambientes formais ou informais existem aqueles que preferem abster-se do saber, se o sujeito quer permanecer ignorante, essa é uma escolha que eu respeito. O que me assustou mesmo foi uma turma de aproximadamente 30 alunos apoiar o lamento do colega. Por alguns instantes imaginei que estava diante de uma revolução da ignorância onde o sujeito reclamão se passava por paladino da burrice e seus colegas apoiadores por soldados da idiotice.

Alguns argumentam que ler não é a única forma de adquirir conhecimento. Pois bem, há outras. Concordo. Porém, nenhuma delas compara-se à leitura em sua capacidade de sintetizar conhecimento multidisciplinar e condensar o pensamento de autores e épocas diferentes. Nem mesmo o Jhonny 5 que é muito mais inteligente que todos nós despreza a utilidade da leitura. 




Ler é um ato civilizador, indispensável a quem quer ter a mínima noção de como é viver em uma sociedade complexa. Que tipo de profissionais e que tipo de pessoas serão aqueles estudantes que enxergam na leitura uma atividade enfadonha, um castigo, um mal necessário?

Ponderando a situação eu encontro duas causas que podem ter originado esta aversão coletiva ao ato de ler. A primeira é o fato de que nossas crianças não aprendem a ler, aprendem a decorar e repetir o significado de símbolos. Ora, isto não é leitura. Ler é interpretar, relacionar símbolos a situações cotidianas, fatos. Ler é associar símbolos frios aos contextos da vida prática, é encontrar no texto algo aplicável à sua compreensão de mundo.

A segunda causa é um subproduto da primeira. Minha professora da 4° série reclamava que os livros “de hoje em dia” só têm figuras. Na época dela só tinha texto. As crianças liam, a leitura desenvolvia a capacidade de abstração e elas aprendiam interpretar, aprendiam relacionar textos e contextos. Mas a nossa educação reprodutora de analfabetos funcionais em série acabou estimulando o surgimento de uma sociedade cosmética. Nesse mundo, a imagem passa a ser o único conteúdo que o sujeito tem condições de interpretar sem dar um nó no “intelecto”.  Ao deparar-se com um texto sem “figurinhas”, o estudante acostumado com as imagens autoexplicativas vai sentir-se mal. Óbvio, o exercício da leitura é uma capacidade cognitiva mal desenvolvida no rapaz. É um deficiente intelectual.

Aonde chegaremos se tudo continuar como está? Não sei. Mas sei que nosso sistema educacional e nossos métodos precisam ser revistos. Isto você também sabe. O que você, talvez não saiba, é que neste exato momento o nosso Plano Nacional da Educação que deveria ter sido votado em 2010 pelo Congresso está ainda “em discussão” e segundo analistas, com a proximidade das eleições, poderá ser votado somente em 2013. Se você conseguir, durma com este barulho e acostume-se com pessoas que vão armar um barraco quando tiverem que ler um texto de 5 páginas. É a própria manifestação da Idiocracy, ela já chegou. 

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